Não sei se haverá mais alguém na audiência com esse interesse, mas eu gostava de conhecer mais detalhes da logística desta fantástica viagem, designadamente:

1 - Tendo 4 filhos e sabendo bem o quanto o tema da roupa pode ser a essência do caos, pergunto-me com frequência como conseguem vocês lavar e secar tanta roupa num espaço tão reduzido e com constrangimentos de energia;

No inicio foi complicado gerir tanta roupa sem uma máquina de lavar. Aos poucos fomo-nos adaptando. Passamos o dia em fato de banho, usamos muito menos roupa do que quando estamos em terra.

Dependendo dos locais onde estamos ancorados ou levamos a roupa às máquinas self service ou lavamos no barco o essencial, fatos de banho e T-shirts, até termos acesso a uma máquina!

O que acontece com frequência é acumularmos muitos kg e depois lá vamos nós completamente carregados tratar do assunto. Para secar, o estendal é o barco, fica muito giro e em poucas horas está tudo seco.


2 - Por falar em energia, quando em travessia (pelo menos) vives exclusivamente dos painéis fotovoltaicos? Quanta energia consegues acumular? A cozinha é sempre a gás, não?

A potência máxima dos painéis solares é de 450W, mas na prática só conseguimos metade disso porque o meio dia solar dura pouco! Os painéis não são orientáveis... E também há nuvens, dias de chuva, etc. O banco de baterias é de 420Ah mas está nas últimas. Durante as travessias o que consome mais são o piloto automático e o frigorífico, quando navegamos à noite temos de ligar um dos motores por três vezes. Durante o dia normalmente os painéis dão vazão. 

Quando não estamos em travessia ligamos o motor uma vez ao final do dia, mas o frigorifico fica nos mínimos durante a noite ou até mesmo desligado. Em breve vamos substituir as baterias e passar para os 700Ah ou mais. Lá mais para a frente iremos instalar um aerogerador. Temos muito jingarelho a sugar energia, laptops, Ipad, telemóvel, baterias de máquinas fotográficas...  A cozinha é sempre a gás, até o grelhador. Fazemos pão de dois em dois dias e é onde se consome mais. As bilhas dão para um mês. 

Em Prickly Bay uma garrafa de água dava para muitas horas de wifi, vantagens de "morar" dois mesmos no mesmo sítio

3 - Como conseguem ter (aparentemente) internet com tanta frequência?

Às vezes conseguimos aceder a redes wifi a partir do barco, temos um amplificador de sinal. Mas o mais frequente é irmos a terra a um bar/restaurante com wifi quase gratuito, é só beber um café ou uma cerveja. Atualmente qualquer cabana no lugar mais remoto tem wifi.

 Aqui em Bonaire comprámos um simcard com dados para conseguirmos trabalhar no blog mais facilmente.


4 - Os banhos são só de água salgada? Só há duche quente e doce em terra?

Os duches são sempre no barco, damos um mergulho, passamos o gel de banho (escolhido para funcionar com água salgada), damos outro mergulho e por fim passamos por água doce para tirar o sal. Há uma saída de chuveiro na popa. Temos sempre água quente, o nosso sistema aproveita o calor gerado pelo motor quando trabalha. À noite não se vê nada, por isso os duches são quase sempre ao ar livre!

 Em Prickly Bay, onde estivemos dois meses, quando íamos à piscina passávamos logo por água doce no chuveiro da piscina para poupar água do barco.

Para lavar a loiça usamos a mesma receita, água doce só no final.

Temos dois tanques com 300l cada. Não temos dessalinizador por isso a água tem de ser bem gerida, sobretudo quando estamos em sítios onde não é fácil encher os tanques. Com 600l aguentamos duas semanas, por vezes mais se não quisermos saír do lugar onde estamos, basta racionar! Duche todos os dias, até durante a travessia para Bonaire! 


5 - E como se armazenam mantimentos para vários dias para tanta gente num espaço tão apertado?

Temos 4 despensas espalhadas pelo barco, ou mais se formos criativos. A comida e brinquedos ocupam mais espaço do que roupa. Quando fazemos travessias temos sempre as linhas de pesca operacionais e normalmente a coisa tem corrido bem. Só na vinda para Bonaire não nos safámos. Como foram 4 dias tínhamos o frigorifico bem recheado. Fora das travessias, quando não pescamos à linha fazemos caça submarina, em busca de proteínas. Normalmente vêm sob a forma de peixe ou lagosta. A alimentação tem vindo a mudar, fazemos muitas refeições vegetarianas. Os miúdos também têm alinhado.

O espaço não é assim tão apertado, já tivemos aqui serões de 14 pessoas (metade crianças) e funcionou muito bem. Para teres uma ideia, costumávamos passar férias no Santa Maria III (barco do meu irmão Pedro), um veleiro de 27 pés. Só um flutuador do El Caracol é maior que o Santa Maria e chegámos a dormir 8 nesse barco! 

 

Cozinha, salão e quarto do Santa Maria III (2008)


Se me quiseres ir satisfazendo estas e outras questões, fico-te grato. É que eu viajo convosco em espírito e através desta janelinha, mas fico com frequência a pensar nos aspectos práticos da coisa.

Venham mais questões! Estamos sempre disponíveis.