Um lugar de sonho para navegar.
Há muito que as Bahamas faziam parte do nosso imaginário. São mais de 700 ilhas e aqui encontrámos as mais bonitas, virgens e cheias de vida. Tivemos encontros únicos com golfinhos e tubarões, explorámos ruínas dos tempos dos colonos ingleses e perdemo-nos em mangais labirínticos sem fim.
Um país independente em termos fronteiriços mas dependente do exterior para o abastecimento de quase todos os recursos. Em alguns dos arquipélagos mais remotos mal conseguíamos abastecer de comida, água e combustível.
O aprovisionamento de quase todos os grupos de ilhas é feito por um barco que vem de Nassau (capital das Bahamas) e que opera 2 a 3 vezes por mês, dependendo do número de habitantes.
Quando chegámos à principal povoação da Ilha Crooked, já quase sem comida e água, deparámo-nos com um ambiente de pós guerra. Casas sem telhado e sem janelas, a estrada esburacada, a estação de serviço desativada, caixotes e caixotes para a ajuda à reconstrução de Landrail Point... Nós não sabíamos, mas sete meses antes esta zona tinha sido atingida por um furacão. A escassez de mão de obra e de recursos para reparar os estragos levou a que os trabalhos se atrasassem e muito. Para piorar a situação o barco de abastecimento não vinha há 3 semanas e os 2 supermercados existentes estavam praticamente vazios. Tivemos de aguardar a sua chegada para poder seguir viagem. Ficámos sempre de olho nas previsões meteorológicas porque o ancoradouro onde estávamos era muito exposto.
Para o abastecimento de água fizemos várias viagens com um carrinho de mão emprestado, cheio com os nossos jerricans. A água era gratuita e vinha de um furo da clínica médica local, tudo muito familiar portanto... já para não falar da enfermeira que era também a proprietária do supermercado!
Um país muito diferente mesmo... e cheio de relíquias escondidas nos brancos areais. Um dos passatempos preferidos era divertirmo-nos como caçadores de tesouros. Visitámos ruínas de casas coloniais, onde encontrámos frasquinhos de perfume e copos antigos. A verdadeira preciosidade foi encontrada num areal de Long Island, onde o Capitaine descobriu, semi enterrada, uma garrafa de gin de 1800 e troca o passo!
O Parque Natural das Exumas, um dos mais bonitos por onde temos mergulhado, é um viveiro de várias espécies diferentes de tubarão... ele há o de pontas pretas, o limão, o nurse, o martelo e o tigre! Bastava esperar um pouco depois de amanhar o peixe e lá apareciam, curiosos e com fome. Não resistimos a fazer um video (https://vimeo.com/162101192). Mesmo com fome demoram a atacar, fazem vários movimentos em círculo em volta da presa e só quando sentem confiança é que se atiram.
Não nos atrevemos a mergulhar com eles, apenas o Capitaine nas suas investidas de caça submarina. Assim que apanhava um peixe em poucos segundos aparecia um tubarão, subir rapidamente para o dinhgy e mudar de spot resolvia a questão.
Mergulhar com um golfinho solitário foi uma novidade. Num dia tempestuoso, antes da calamidade desabar por cima das nossas cabeças, demos com um golfinho perto do local onde estava a nossa âncora. Fomos averiguar e lá estava ele à caça do almoço, depois de apanhar o seu peixinho brincou connosco durante quase uma hora, para delírio de todos. Mergulhos, rodopios, palhaçadas e muitos risos...
Noutra ocasião, estávamos fundeados a admirar o pôr do sol, quando apareceu uma família de 5 golfinhos para dar as boas vindas, deram a volta completa ao El Caracol e observaram-nos curiosos.
Destes encontros, o que mais nos marcou foi numa travessia de um dia sem vento e sem ondulação, seguíamos a motor e mal se distinguia o azul do mar do azul do céu, quando surgiu a mais incrível visão de um grupo de golfinhos que pareciam voar no mar, a visibilidade estava tão boa que se viam todos os pormenores como se estivéssemos debaixo de água! (https://vimeo.com/152471174).
Por estas águas navegámos cerca de 3 meses, foram semanas sem ver outros barcos nos conjuntos de ilhas mais remotos, outras tantas na companhia de amigos, vimos porcos que nadam, recifes de coral que mais pareciam jardins encantados, mangais de águas transparentes, tempestades com tornados em pano de fundo, pescámos o primeiro wahoo da história do El Caracol, mas claro que muito ficou por ver e explorar, fica para mais tarde...