Não podíamos deixar o Mar das Caraíbas sem visitar o Arquipélago de Bocas del Toro, um paraíso de mangal na fronteira com a Costa Rica. Também muito procurado por ser um bom spot de ondas para surfar.
A janela de tempo era apertada, uma vez que já tínhamos agendado o dia para passar o Canal do Panamá, mas as condições meteorológicas favoráveis permitiram-nos dar um pulinho rápido e fazer as 140 milhas para lá, desfrutar de 5/6 dias de explorações e outras 140 milhas para voltar. O David Attenborough já nos tinha cutucado com um documentário muito bom sobre esta região, o suficiente para querermos visitar as “Galápagos das Caraíbas”, além de que precisávamos de atestar o El Caracol com pranchas de surf para a temporada de Pacífico Sul.
Fomos na maravilhosa companhia do Pedro Pinto, amigo de longa data que veio juntar-se à tripulação. Gracias Peter pelo patrocínio da prancha de surf da criançada e pelos 9 pacotes de Cerelac!
Este arquipélago tem um encanto especial devido aos inúmeros hectares de mangal, em câmara lenta navegámos os vários canais entre ilhas e baías de águas espelhadas com uma beleza de cortar a respiração. Momentos que vão ficar para sempre na nossa memória.
A ilha principal do arquipélago chama-se Isla Colon onde fica a povoação Bocas del Toro, que também dá o nome ao arquipélago. Aí fizemos a primeira paragem para tratar das pranchinhas e abastecer de mantimentos. Muito pituresca, colorida e jovem esta pequena vila virada para o mar cativou-nos pela sua simplicidade e tranquilidade.
Para abastecer de água tivémos de ir a outra ilha… Isla Bastimentos e aqui começou a festa, com a baía dos golfinhos, as pequenas ilhas de mangal e as baías secretas com casas privadas de sonho. Fomos parando aqui e ali para almoçar, mergulhar, pernoitar.
Na Isla San Cristobal assistimos ao maior encontro de alforrecas jamais visto, lá íam elas muito apressadas de um lado para o outro. Na Isla Popa conhecemos uma família americana sui generis com a qual passámos umas valentes horas, inclusivé ancorámos no “quintal” para passar a noite. Este vídeo feito por eles, tem as fotos tiradas por nós do topo do mastro do El Caracol: https://www.youtube.com/watch?v=oug5-Q8rNgM.
Deixámos Bocas del Toro para o compromisso: passar o Canal do Panamá. Na véspera do dia marcado para a nossa travessia e após telefonemas com as autoridades, recebemos a notícia de que afinal não havia vaga para nós... a regata World ARC (https://www.worldcruising.com/world_arc/event.aspx) com as suas dezenas de barcos tinham ocupado todos os pilotos do canal.
Mas há males que vêm por bem e assim tivemos tempo para ir visitar os crocodilos do Rio Chagres e abastecer o El Caracol de côcos. Já na companhia do Pedro Campos e com a tripulação a perfazer 7 elementos fomos em busca dos répteis mais temidos das redondezas.
Este é o Rio que dá origem à bacia hidrográfica por onde passa o Canal do Panamá. Sem ele não havia Canal… e é uma pequena gema selvagem, cheia de vida e verde, verde, verde. Além de ser o único rio no mundo que desemboca em dois oceanos.
Subimos o rio de El Caracol ao longo de 6 milhas avistando e ouvindo bicharada até mais não!
Este macaco capuchin (Cebus capucinus) ficou bastante curioso com a nossa presença, foto by Rodrigo (Becas).
De noite com os focos de luz conseguíamos ver os olhinhos a brilhar dos macacos nas árvores e os dos pequenos crocodilos nas margens do rio. Claro que o ambiente a bordo era de histerismo e incredibilidade.
Depois do rio só faltava mesmo o Canal, uma das obras de engenharia mais marcantes na história da humanidade (https://pt.wikipedia.org/wiki/Canal_do_Panam%C3%A1) e que nós ansiávamos por cruzar.
A burocracia para a passagem foi pacífica, com um dia para medições do barco e preenchimento de “alguma” papelada, pagamento adiantado de todas as despesas incluindo uma caução de 1.000USD. Tratámos de tudo diretamente com as entidades responsáveis, sem recorrer a agente. Toda a travessia foi feita com a presença de um piloto especializado que orienta todas as manobras ao longo do percurso.
Chegámos à primeira eclusa (Gatum Lock) pelas 17h do dia 3 de Fevereiro de 2017 amarrados a outro veleiro, "raft" em terminologia dos pilotos .
Todo o processo de passar uma eclusa é inesquecível. Foi preciso amarrar o barco com cabos que nos lançaram de terra, prendê-los bem nos cunhos, esperar que as comportas se fechassem, que o nível de água subisse, ir recolhendo o excesso de cabo à medida que subíamos, com o piloto a gritar caça o cabo à ré, capitão dá um pouco de motor a estibordo, atenção ao cabo à frente, dá mais, agora recolhe, ufff...
Cada um ficou com uma tarefa muito específica e as ordens foram seguidas à risca. Pela primeira vez o El Caracol esteve num jacuzzi mas sem relaxar! A trepidação gerada pelo movimento de entrada de água na eclusa mete respeito.
Nesse dia dormimos no imenso Lago Gatun agarrados a uma poita e na manhã seguinte continuamos a caminho do Oceano Pacífico. Esperavam-nos mais duas eclusas, a de Pedro Miguel e a de Miraflores. Tudo decorreu sem imprevistos e na maior excitação.
Passar debaixo da Ponte das Américas marcou a nossa entrada no Oceano Pacífico e CONSEGUIMOS! Chegámos no dia 4 de Fevereiro pelas 16h e cá estamos para continuar a nossa aventura. Um agradecimento especial ao Pedro Pinto e ao Pedro Campos pela preciosa ajuda como "line handlers". E bem vindos ao Oceano Pacífico! (o entusiasmo era tanto que a bandeira ficou ao contrário...)